Raízes conectadas: Jovens indígenas não se prendem a estereótipos do passado e vão em busca de um futuro melhor para suas comunidades

 

Laís Tupinambá
Laís Tupinambá de 18 anos estuda comunicação social para dar voz ao povo indígena

“Ser jovem indígena é carregar muita responsabilidade”. É assim que começa a fala de Laís Tupinambá, de 18 anos, plenamente consciente da sua responsabilidade de fazer valer a história do seu povo. A jovem que acabou de entrar na Universidade sabe da importância que tem para os indígenas ocuparem espaços dentro da sociedade e lutarem por reconhecimento e representatividade. Para ela, o fato de começar um curso superior é uma vitória não só pessoal, mas para todos os indígenas. A escolha pelo curso de Comunicação Social gira em torno do seu povo. “As grandes mídias não dão voz aos indígenas ou quando dão relatam mentiras sobre nossa verdadeira realidade”, lamenta.

Esses são só alguns dentre tantos desafios que os jovens indígenas enfrentam para serem reconhecidos, respeitados e terem acesso à educação, saúde e cultura. “A Universidade pode vir como uma grande aliada para os povos indígenas, onde mudamos esse formato quadrado que ela tem, colocando a nossa diversidade e trazendo dela os saberes que nos façam crescer na luta”, afirmou a jovem.
Enfrentar os estereótipos e o desconhecimento da sociedade não indígena acerca da cultura dos povos que aqui já estavam antes do Brasil ser Brasil também é uma batalha diária de meninos e meninos que possuem dentro de si a marca da resistência e são obrigados a se reinventar dentro da cultura. Afinal, usar roupas, ter celular, estar conectado na Internet, estudar, morar na cidade não deveriam ser exclusividade da sociedade não indígena. E não são.
“A cultura dos povos indigenas é uma cultura que muda a partir do seu cotidiano e da sua realidade. Muda os trajes, a forma de viver, as pinturas. Para falar dessa mudança é preciso falar do passado”, conta Emerson Pataxó, de 17 anos, da aldeia de Coroa Vermelha, a maior aldeia urbana da América Latina. O jovem, militante do movimento estudantil secundarista, presidente do grêmio estudantil Itambé do Colégio Estadual Indígena Coroa Vermelha, desde pequeno sempre foi ativo na escola, questionando e buscando resolver os problemas junto aos professores. O território indígena de Coroa Vermelha possui aproximadamente 7 mil habitantes.

 

Emerson Pataxó faz parte da União da Juventude Socialista
Emerson Pataxó faz parte da União da Juventude Socialista

E com tantas mudanças não é difícil encontrar jovens indígenas que lutam por seus direitos e sua auto indentificação. “Não somos menos indígenas por simplesmente não andarmos mais nus. Eu adoraria ainda ter esse contato com a natureza, essa liberdade de poder morar na minha aldeia em paz, vivendo a nossa cultura como ela sempre foi de verdade. Mas hoje em dia sabemos que isso infelizmente não é mais possível. Mas isso não me torna menos índia por não ficar pelada na aldeia, não desvaloriza meu povo. Eu vejo como uma certa evolução do meu povo também, afinal fomos forçados a nos adaptar”, afirma Laís.
A juventude vê no horizonte a responsabilidade do futuro das comunidades e se mobiliza para revigorar a cultura, para não deixar morrer, nem cair em esquecimento a história dos povos indígenas do Brasil. “O jovem tem que entender o valor, a importância da nossa cultura, não deixar perder a nossa identidade. Porque o índio tem a sua força da natureza, tem a sua força de seus rituais e tudo isso abrange o nosso modo de viver, se perdermos isso, nos tornamos um povo fraco. A juventude vem nesse papel de manter a nossa chama viva”, afirma Laís.
Futuro das comunidades
A conexão e preocupação com a natureza são duas das pautas da juventude indígena. “Muitos dos nossos parentes estão esquecendo nessas novas retomadas que devemos priorizar, valorizar e preservar o meio ambiente”, indaga Emerson, provando que os jovens estão presentes na luta, mostrando que têm voz, que têm raiz, que estão abertos e dispostos a lutar por mudanças conscientes e de amplitude planetária. Não querem ser considerados folclore, são modernos, estão atentos as mudanças do mundo, tentando acompanhá-las, mas não perdendo a essência que os conecta com as tradições.

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Edson Pankararu se uniu com outros jovens da aldeia para fundar a União da Juventude Pankararu
Edson Pankararu se uniu com outros jovens da aldeia para fundar a União da Juventude Pankararu

A história de Edson Pankararu, de 27 anos, se une a de Laís Tupinambá e Emerson Pataxó, apesar dos quilómetros e da diferença de Estado que os separam. Edson é vice presidente da União da Juventude Pankararu. Os 3 jovens fazem parte do grupo Força Indígena Jovem, criado em 2016, com a união dos jovens das etnias Pataxó, Pataxó Hahahãe, Pankararu, Tupinambá, Kariri Xocó, Xokó e Karapotó. “Somos jovens pesquisadores sempre em conexão com nossos ancestrais. Sempre juntos com a sabedoria dos mais velhos e também das novas tecnologias, que nos possibilita a troca de saberes com os outros povos, com a juventude de outras aldeias”, afirma Edson Pankararu.
Para o jovem, se afirmar pela cultura e tradição indígena fortalece a juventude. “Isso que mostra que somos povos tradicionais. Independente de onde moramos, das roupas que usamos, nunca perderemos nossa essência, nossa cultura, nosso valor, nós somos povos indígenas tradicionais, donos da terra, da natureza”, complementa Edson, que mora no sertão seco de Pernambuco, na aldeia Pankararu, onde vivem aproximadamente 8 mil índios.
Tanto Edson quanto Laís e Emerson sabem que está dentro deles e de toda a juventude indígena o destino de suas comunidades e não se amedrontam perante a responsabilidade. “Os povos indígenas sempre foram muito guerreiros nessa questão de lutar, não ter medo. Precisamos lutar para ter uma sociedade digna. Nós resisteremos mais 516 anos e não vamos dar trela para esse povo que quer nos exterminar. Lutar é preciso”, finaliza Emerson Pataxó.
Edson sabe que a força da juventude está presente no agora e no amanhã. “Somos os futuros caciques, pajés, lideranças. Se não assumirmos nossa cultura hoje, futuramente não seremos reconhecidos como povos indígenas. Precisamos estar unidos para fortalecer nossa cultura”, afirma. “Uniao, paz e respeito a nossa cultura, origem, ancestralidade, lutas e guerras passadas. Queremos o que é nosso por direito porque somos o presente e o futuro do planeta”, complementa.
O grupo Força Indígena Jovem nasceu dentro da ONG Thydêwá através do projeto Adolescentes Indígenas Expressão Cidadã e é possível acompanhar o movimento que só cresce através do grupo no Facebook: https://www.facebook.com/groups/941864215891750/?fref=ts.
Desde 2002, a Thydêwá trabalha para o fortalecimento das comunidades indígenas, para a consciência planetária e promoção da cultura da paz. Nos últimos anos, tem aliado a apropriação das tecnologias de informação, comunicação e aprendizagem a projetos que lutam por relações interculturais justas e verdadeiras, como a rede Índios On-Line (www.indiosonline.net); Índio Educa (www.indioeduca.org) e a Rede Indígena de Arte e de Artesanato (www.risada.org).
O Adolescentes Indígenas Expressão Cidadã conta com o apoio da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério da Justiça e Cidadania e foi desenhado para promover ações com protagonismo de adolescentes indígenas que visam melhorias para as comunidades participantes: Pataxó de Barra Velha, Pataxó de Cumuruxatiba, Pataxó Hã Hã Hãe, Tupinambá (BA), Pankararu (PE), Xokó (SE), Kariri-Xocó, Karapotó-Plakiô (AL).[/fusion_builder_column][/fusion_builder_row][/fusion_builder_container]